quarta-feira, 2 de março de 2011

Tony

TONY
25.01.2011


A Aids parecia não ferir os seus sonhos. Assim como o desprezo e o preconceito não fizeram tanto sentido em seus olhos tristes. Tony, talvez seu caminho não fosse vagar sozinho chorando dor e bebendo pus. Talvez a sua justiça não seja para os homens, mas seja para o espírito. Aquele do teu corpo que induziu a tudo o mais ser cavado fundo no peito, como seus sonhos... como a sua vida solitária e cheia de mentiras. Mentiras de quem te amou. E de repente eles não puderam te acompanhar. Os sentimentos que você costumava sentir, a sua vitória que costumava bradar... simples mesmo é ter um conceito inadequado como em um sistema que não se encaixa diante do mundo. Como se o mundo não pudesse mais te servir ou mesmo te afagar como sua mãe costumava fazer tão bem quando você quabrava os copos e se fazia de vítima chorando como se passasse fome...

E você passou tanta que mesmo adoecendo não se privou do melhor o quanto podia, porque os remédios não adiantavam diante da sua tristeza de ter fracassado quando recusou a camisinha. Eu sabia que você não ia voltar. E que não olharia para frente. Eu sabia que você queria ficar la atrás superando sozinho o frio que te corroía.

Eu sabia que você saberia orar no momento certo e que a sua reza fosse deixar uma lição para trás. Eu me pergunto: por que você agradecia tudo no seu fim?
Por que me ensinar tão dura lição? Por que não me deixou ver o seu corpo e acompanhar o seu enterro? Por que você prendeu as minhas lágrimas se fazendo de forte, me dizendo que aguentaria, que não precisava de eu sentir tanto e me prender na cama enquanto você chorava amargamente lá nos hospital, fora do seu corpo, olhando para o chão, superando tudo em uma noite só. Toda a sua morte?

Não pense que eu não chorei.
Não pense que não me doeu.
Não pense que não me recordo.
Não pense que vou me esquecer.
Não pense que não cresci.
O tanto que cresci contigo, meu amigo.

Eu sim, gosto de você!

San

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