quarta-feira, 2 de março de 2011

Gotas de Chuva

GOTAS DE CHUVA


Do alto de um prédio, daquele prédio imponente que poucos conseguem entrar, eu observava o céu um pouco longe. Eu estava sentada recostada na parede obsersando o mundo crepuscular enquanto todos pareciam muito a vontade e corretos em suas poucas conquistas. Porém, bastante felizes...

Tudo escurecia, mas dava para ver o brilho nos olhos das pessoas. O meu brilho não aparecia... talvez porque o verde não tenha outra saída há não ser se ocultar atrás do negro para enxergar melhor. Talvez...

Todos animados conversando sobre coisas que todos esqueceriam dia seguinte. Tudo muito inclinado para a noite perfeita quando... Não muito distante o céu parecia falar... e falava tanto sobre tantas coisas que parecia doer. Doía tanto que nada mais era humano, tudo era apenas parede e palavras saindo de todos os lados. Foi quando entendi que o céu não me dizia nada e que o céu não sentia nada. Eram meus pensamentos que se misturavam com suas nuvens, tão altos e tão conflitantes, tanto que quando o céu choveu eu pensei que chorava...

Depois de umas horas em que cai em consciência quando deveria ser apenas animada e falar coisas esquecíveis, quando foi tarde demais para voltar a ser a outra como os outros eram, eu estava de pé, olhando o salão inundado coberto por escuridão e pouca luz ao fundo tentando iluminar meus passos. Não haveria de cair de tão alto. Não em uma noite em que não daria mais nenhum sorriso de verdade. Nenhum sorriso que valesse para realizar algum sonho, suprir alguma solidão.

Pus minhas mãos na bancada da grande queda e olhei para baixo. Que cena mais maravilhosa, o céu chovendo e pareciam lágrimas caindo de mim, porque ali não poderia chorar, eu não tinha o direito, sabe? Todos adultos demais e importantes demais para olharem bem ao fundo e também pararem de sorrir, mas eu estava enganada, enganada demais. Porque uma noite mudaria tudo?

Uma noite não é uma vida.

Aquelas gotas eram o marco forte do que não poderia ser dito jamais. O túmulo sublime de não se dar o luxo de ser eu mesma, sendo meu nome mesmo ou outro... sendo eu mesma ou a outra, aquela ilusão de que sorrindo você vai levando a vida numa boa... para que na próxima vez você esteja mais forte, mais voraz, mais branda... Quem consegue parar de sorrir quando não se tem mais opção? Talvez a forma mais trágica de tentar tudo de novo... Um novo romance?

A outra amizade que deu certeza...do plano que foi tão bem planejado, era para dar certo, sabe? Recomeçar do zero e nunca mais ser magoada. Mas teve uma mágoa, houve um roubo e uma grande decepção. Também houve a quebra da paz, o desassossego e também houve a mágoa da vida. A desistência de ter mais amigos... a desistência... não... isso não... mas o medo latente (MEDO LATENTE) de tentar outro amor, de se apaixonar, de cair de novo no chão com o rosto na lama... até a chuva passar e o chão endurecer minhas lágrimas, eu me fazer forte de novo... levantar de novo... e de novo abanar os braços no ar para não cair.

A infância realmente esteve no passado?

Porque depois de um tempo em que se é maduro e adulto e você pensa que está fazendo tudo certo para poder seguir em frente, e seguir dentro das leis e da ética e do amor e da boa vontade, você percebe que eles continuam errando e que você nunca conseguiu estancar o sangue que sempre borbulha, como quando você está caminhando sozinho no meio de uma multidão que vai ao cinema, estão todos felizes e educados porque é preciso ser civilizado fora de casa, longe dos vizinhos, e de repente você começa a enxergar isso e percebe que você não está de casal e estar de casal indo ao cinema lhe parece muito impossível, que se acaso ocorrer será uma vez e tudo terminará, como as conversas esquecíveis... O calor vai te fazer suar, porque querer demais o que não se repete ou o que não pode ser consertado, te faz suar. Daí vai sentir aquela pontada no peito... aguda, forte como se sua carne fosse gritar sozinha e mais ninguém vai ouvir há não ser você e não há nada que você possa fazer porque você também começa a gritar assim...E quando olhar para baixo pondo a mão no coração, vai sentir aquele sangue quente descer e borbulhar por um buraco demasiadamente grande, assustador...incurável.

Isso é viver todas as noites em que não chove...

Uma fila de cinema que não olha para trás... que não percebe mais nada. Uma multidão que não tem a obrigação de te salvar da sua própria existência... O terror de ser quem você é... e não mudar seu primeiro nome. Salve Salve todos que ouvem... O delírio treme os lábios e chora agoniado com vergonha de tudo e tudo o mais.

O que eu quero dizer com isto...? Não sei bem... Só entendo que está sendo assim... E eu não posso pedir ajuda!

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